O Parque e seus intervenientes

Os Berlinenses adoram esticar-se, beber cerveja, tocar viola, fumar, fazer churrascos...em parques. E levam, sempre, as suas crianças.
E amam as suas crianças, tal como amam os seus cães.
As crianças estão em todo o lado. E fazem coisas impressionantes. Falam alemão fluentemente, que convenhamos é uma coisa difícil de imaginar uma pequena criança a fazer. Tais sons complicados e bizarros a sair das guelas de um ser tão pequenino. Dá-lhes um ar inteligente. Além disso andam de bicicleta melhor do que eu, e atrevo-me a dizer, provavelmente melhor do que 90% da população Portuguesa. Acompanham os seus papás, liderando o caminho nas suas bicicletas minis.
São tão variados os tipos de crianças como os tipos de pais. Pobres pequenos seres são desde tenra idade extretamente influenciados a pertencer a uma qualquer tribo social. As meninas que já usam batôn, pulseiras, colares, tops decotados, e as mães ao lado. Cópias. Os filhos de punks, já com cabelo a rigor rapado dos lados, e suas mães com sobrancelhas vermelhas, tatuagens e piercings. O pai alcoólico que dança ao som do que seja que sai da guitarra que outro alcoólico toca, e abandona o filho a correr pelo parque, imundo, a rebolar na relva, na lama.

Estar sentada meia hora num qualquer parque em Berlim é poder analisar uma quase totalidade de comportamentos humanos.E só posso imaginar as histórias por detrás daquelas pessoas, que saem de casa para ir ao parque. E são muitas, principalmente em dias de sol.
São o lugar perdilecto da grande percentagem de alcoólicos desta cidade. Juntam-se, tocam viola, e claro, bebem cerveja. Horas e horas a beber cerveja. Eles são realmente os donos do parque. Em cada parque há um grupo de alcoólicos permanente. Aqui ao pé de mim são um grupo maioritariamente africano, com um rádio enorme...reggae,techno dos anos 90, tudo toca por ali. E nunca é bom. Aliás, a avaliar pelo gosto e talento musical dos frequentadores de parques, Berlim estaria muito mal. Há sempre alguém que insiste em tocar um instrumento, seja ele a clássica (e insuportável!) flauta pan, ou a banal viola, acompanhada normalmente por uma espécie de canto. Algo entre canto e gemido.
Depois há os desportistas, os casais a namorar, os grupos de amigos e famílias turcas a fazer churrascos, os solitários (nem que seja por um dia) a ler. E o homem do frisbee. Um homem, com os seus 30 anos, sem uma ponta de banha no corpo,passa todos os dias, todo o dia, no parque a jogar frisbee. Os parceiros mudam, a temperatura muda, e lá está ele, imparável.