Berlim, um bocadinho mais romântico
Berlim é uma cidade rude, até suja. Não sorri a quem a visita, é preciso compreendê-la, e aos seus personagens.
Potsdam é um subúrbio de Berlim, muito mais indicado para as pessoas que se assustam com a cidade, e preferem o romântico.
Ontem fui a Potsdam. É um lugar charmoso, limpinho e arranjadinho para turista ver. Desde o centro da cidade, onde o bairro holandês é preservado com as suas pequenas casinhas construídas de tijolos, até aos inúmeros palácios existentes. Num dia há apenas tantos que uma pessoa possa ver.
Comecei por visitar o palácio Sanssouci, construído pelo rei Frederico o Grande da Prússia aquando do seu reinado e residência da família real em Postdam. É um monumento imponente, e com o seu estilo rocócó bem aparente. Mas a verdade é que tenho alguma queda para estes monumentos magnificentes, com a ambição de serem maiores do que qualquer outro antes construído, e a transpirar exagero. Tiram-me o fôlego, nem que seja pelas razões mais fúteis.
O palácio Sanssouci tem em sua frente uma enorme escadaria, que acaba numa fonte rodeada por “estátuas gregas”, e em volta verde. Um enorme parque onde muitas pessoas passam o dia a passear, a ler, a descobrir o labirinto e mergulhar na história do local.
A razão pela qual me deleito com estes sítios não é apenas pela sua magnitude, é pelo facto de fazerem a minha imaginação viajar, e responderem às minhas mais opulentas fantasias de menina. Imaginava-me ali, num enorme vestido balão, com um enorme chapéu, a beber chá e comer bolinhos com os meus pares.
Depois de andar pelo centro da cidade, informar-me sobre o que deveria ver, e recuperar forças com um almoço razoável seguiu-se a visita a um castelo: castelo Cecilienhof.
Cecilienhof foi onde se reuniram os “três grandes” (Churchill, Truman e Estaline) no final da II Guerra Mundial, no que se chamou a Conferência de Potsdam.
Ao chegar fui recebida por um grande grupo de turistas japoneses. Não se vêem muitos japoneses em Berlim, acho mesmo que eles preferem “descobrir” novos sítios, mais pequenos e acolhedores. Para além deles e dos seus flashes estavam estacionados enormes carros topo de gama, pretos e lustrados, protegidos por motoristas e guarda-costas com auriculares, a falar inglês com sotaque americano cerrado. Um dos carros dizia Governo do Brasil, não vi o Lula mas apercebi-me da real presença de gente importante. Não sei quem eram.
O castelo situa-se à beira de um enorme lago, onde devido ao intenso calor que se fazia sentir, dezenas de pessoas “faziam praia”. Nadavam, apanhavam sol na relva, faziam piqueniques, caminhadas, etc. Sempre que o sol espreita um pouco os Alemães saem à rua.
Não resisti em entrar e visitar os aposentos onde ficaram os presidentes e as suas delegações. Vi os escritórios de cada delegação (americana, soviética, britânica). Cada delegação tinha uma entrada diferente para o castelo, a soviética era naturalmente a mais grandiosa. Era um pequeno salão – o salão branco – com portadas viradas para o lago. De novo imaginei-me ali, na entrada da casa, com indumentária um bocadinho mais contemporânea, mas adequada, a beber ice-tea debaixo de um enorme guarda-sol.
Além dos escritórios vi a sala de conferências, onde imagino tenham sido selados o acordo de Potsdam e declaração de Potsdam. Na parede estava pendurada uma fotografia com os três presidentes, Churchill velho e curvado, Truman rígido e sério, e Estaline a sorrir com um cigarro na boca.
A acompanhar a minha visita tive um folheto, em português, que me informava dos tipos de madeiras, e tais pormenores, com que os móveis foram construídos.
Voltei para Berlim de comboio, quente mas confortável. À minha frente uma senhora obesa vestida de cor-de-laranja e verde lia “The Blessing Stone” de Barbara Wood
(afinal não é só em Inglaterra que se lê muito, mas mal), uma turista indiana, adolescente, que tal como eu ouve o seu i-pod, mas adormece, balançando a cabeça com a boca aberta a viagem inteira. E assim sou recebida de volta a Berlim, sentindo-me já em casa, a olhar pela janela e a reconhecer lugares e momentos.
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